Viagem e Retorno: Um Conto Surrealista

Ao zarpar do porto, o veleiro cortava as ondas como uma faca que atravessa o fino véu da realidade. As velas infladas pelo vento pareciam asas de uma criatura mítica, levando a embarcação a paragens desconhecidas. O mar, um vasto espelho líquido, refletia céus de tonalidades impossíveis, pintados com pinceladas de sonhos e devaneios.

A costa desapareceu no horizonte, e com ela se foram as construções e o farol, substituídos por ilhas flutuantes onde cresciam árvores de cristal e flores que sussurravam segredos. Cada ilha era um fragmento de um quebra-cabeça dimensional, onde o tempo se contorcia e espaços eram reconfigurados a cada instante.

Durante a travessia, o sol se despedia do céu para dar lugar a uma lua gigante, cuja luz prateada desenhava constelações novas e estranhas, como se fosse a primeira noite do universo. Os tripulantes, agora feitos de puro pensamento, navegavam por entre nebulosas de cores vivas e fragrâncias de lembranças esquecidas.

Finalmente, no limiar entre a vigília e o sonho, o veleiro encontrou seu destino—a origem de todas as viagens, um ponto de retorno onde o conhecido e o desconhecido se fundem. A travessia de volta trouxe consigo não apenas as paisagens oníricas, mas também uma nova percepção da realidade.

Ao avistar novamente o porto, as velas do veleiro se desvaneceram, revelando-se como meros rabiscos de imaginação. A costa, com suas construções e farol, parecia agora um esboço de um pintor celestial, e o quebra-mar de concreto se transformava em uma passarela de estrelas, iluminando o caminho de volta à realidade.

Mas aqueles que retornaram sabiam que jamais seriam os mesmos. Cada onda, cada ilha flutuante, cada estrela guardava um pedaço da viagem—um fragmento de uma realidade surreal que, agora, fazia parte de suas almas.

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